A peça que falta


 Há dias em que almejo despertar de maneira diferente. Sem me sentir chato, sem graça, sem propósito, ou como um fardo com a data de validade vencida nas costas. Gostaria de me levantar, encarar o espelho e, como em um conto de fadas, ver meu próprio reflexo sorrir e me dizer: 'Nossa, como você é incrível! Tenho uma profunda admiração por você. Obrigado."

Infelizmente, a realidade é outra. E anseio desesperadamente por essa auto-validação.

Por vezes, sinto minha vida sob uma ameaça constante. É como se o mundo conspirasse e, na minha mente, todos estivessem prontos para me abandonar, sabotar, puxar meu tapete e me descartar como se eu fosse irrelevante. Tenho a nítida sensação de que a vida é um grande palco e, embora eu detenha o papel principal, atuo apenas como um mero coadjuvante.

Mas a dura verdade é: o universo sequer nota a minha existência.

E sinto tamanha frustração por ter tanto a meu favor – família, filha, saúde, profissão – e ainda assim, viver com tanta preocupação. O que resta é um vazio despropositado. Por que essa lacuna? Por que não consigo focar o bem-estar da minha família como meu único objetivo? Essa incapacidade apenas realimenta o ciclo de baixa autoestima e autodesprezo.

Almejo de coração alcançar, mais uma vez, uma trégua nessa batalha interna. Que a vida deixe de ser uma festa vibrante onde me sinto um estranho, chato e totalmente deslocado. Tenho esperança de que, um dia, essa situação mude e que essa sensação se vá.

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